Egressas da ESCAS contam sobre a participação em pesquisa no maior corredor restaurado da Mata Atlântica
Há mais de 20 anos, o IPÊ iniciou os plantios do que viria a ser o maior corredor reflorestado na Mata Atlântica, atualmente com 2.4 milhões de árvores, no Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste do estado de São Paulo. Mas qual é a efetividade desse plantio? Quais serviços a natureza já oferece nessa área restaurada? Os animais já utilizam esse corredor? Quais são os benefícios (monetários e não monetários) da restauração florestal e da presença dos animais? Para responder a essa e outras perguntas, pesquisadores do IPÊ, parceiros e alunos da ESCAS – Escola Superior de Conservação e Sustentabilidade em Conservação iniciaram uma série de estudos.
Desde 2015, alunos do Mestrado da ESCAS em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável vêm contribuindo com pesquisas na região vinculadas às bolsas de estudo. No período de 2015-2017, o projeto “Desenvolvimento de Tecnologias para Valoração de Serviços Ecossistêmicos e do Capital Natural em Programas de Meio Ambiente”, uma parceria do IPÊ com a CTG-Brasil contou com a participação de quatro alunos bolsistas da ESCAS. Em 2020, com a renovação da parceria entre IPÊ e CTG-Brasil com o projeto “Desenvolvimento de Procedimentos Simplificados para a Valoração Econômico monetária de Serviços Ecossistêmicos e valoração não monetária de Serviços Ecossistêmicos Culturais Associados à Restauração Florestal”, de Pesquisa & Desenvolvimento ANEEL mais quatro bolsas estão em curso.
Outras duas bolsas de estudos vieram em 2020 da FEALQ – Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz da ESALQ, parceira do projeto. O Lastrop – Laboratório de Silvicultura Tropical, da Esalq/USP; a Universidade de Lavras; GVCes, da Fundação Getúlio Vargas; Weforest e Rainforest Connection completam os parceiros do projeto. As pesquisas que tiveram início em 2020 serão desenvolvidas até 2022.
Natália Moretti Rongetta está entre os egressos bolsistas que concluíram o Mestrado Profissional contribuindo com o projeto por meio de bolsas de estudos a partir da parceria entre IPÊ e CTG-Brasil. Durante o estudo, Natália identificou, com a orientação dos pesquisadores, 13 espécies de aves dispersoras de sementes no corredor ecológico, nos pequenos fragmentos restaurados e em duas Unidades de Conservação: a Estação Ecológica Mico-leão-preto e o Parque Estadual do Morro do Diabo.
“Descobrimos, por exemplo, a presença da Juruva (B. ruficapillus), espécie de ave um pouco mais sensível a alterações no habitat, nos pequenos fragmentos florestais próximos à Estação Ecológica Mico-leão-preto, foi animador”. A descoberta reforçou como as áreas restauradas podem melhorar a conectividade dessa paisagem para espécies mais sensíveis, explica a egressa.
O trabalho de Natália “Conectividade e Serviços Ecossistêmicos: Aves Dispersoras de Sementes em um Corredor Ecológico Restaurado” reforça como estratégica a utilização de espécies vegetais zoocóricas (aquelas que possuem frutos comestíveis com sementes) na restauração florestal – algo recomendado, mas que ganha expressão com a consolidação dos dados. A medida atrai a fauna consumidora de frutos, o que tem o potencial de contribuir para o aumento da dispersão de sementes na área restaurada e a médio prazo reduzir os custos da restauração.
Quem também participou do projeto foi Raphaela Cantarino Ribeiro com a pesquisa “Avaliação de Ecossistemas Florestais em Restauração do Corredor Ecológico da Fazenda Rosanela, Pontal do Paranapanema, SP”. Raphaela realizou a pesquisa com a orientação dos pesquisadores do IPÊ por meio de levantamento de campo e do Lidar, um sensor aéreo que fotografa. “A partir dessas imagens eu consegui definir como estava o andamento da restauração no corredor ecológico. O resultado superou as expectativas. O corredor foi plantado em uma área onde não havia água e quando as árvores começaram a crescer surgiram vários olhos d’água por ali. Aquilo possibilitou o desenvolvimento de muitas outras espécies de árvores na região, foi muito surpreendente. Nas imagens áreas fica muito claro como isso aconteceu”, comenta Raphaela.
Cerca de 47% das espécies de árvores identificadas no corredor não fazem parte da lista de espécies plantadas. Entre elas, 52% possuem síndrome de dispersão zoocórica, ou seja, provavelmente houve dispersão de sementes a partir da área fonte, o Parque Estadual Morro do Diabo, possivelmente por meio dos animais que já utilizam o corredor ecológico para se deslocar entre o Parque e a Estação Ecológica Mico-leão-preto. “Foi maravilhoso participar e ver esse resultado de perto, as árvores e também vida correndo ali, os animais estão voltando, todo o processo foi muito enriquecedor”, completa Raphaela.
“Apesar da frequência de avistamentos de antas, até o momento, não existem informações sobre a espécie em áreas periurbanas e urbanas de grande adensamento populacional humano”, afirma Patrícia Medici, coordenadora da INCAB, iniciativa do IPÊ.
As mestrandas da ESCAS/IPÊ, Aghata Comparin Artusi e Thaisi Baech Sorrini são estudantes do curso de Mestrado Profissional em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável e, ultimamente, têm respirado livros, cadernos, aulas online (por conta da pandemia do coronavírus) e pesquisas de campo, no Pontal do Paranapanema.
O Brasil está na contramão da conservação ambiental. Segundo o pós-doutorando Ricardo Gomes César (foto), coordenador da frente de Carbono da pesquisa “Desenvolvimento de Procedimentos Simplificados para a Valoração Econômico-monetária de Serviços Ecossistêmicos e valoração não monetária de Serviços Ecossistêmicos Culturais Associados à Restauração Florestal”, uma parceria do IPÊ com a CTG Brasil, por meio de um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento – P&D da ANEEL, realizada no Pontal do Paranapanema, é preciso deixar claro a função que as florestas desempenham, pois são elas que absorvem o CO2, emitido na atmosfera, sendo que as árvores sequestram o CO2 do ar e o absorvem para seu desenvolvimento. Porém, quando uma árvore é cortada ou queimada ela libera o CO2 novamente para a atmosfera.
Já Thaisi (foto) esclarece que sua pesquisa é na tipologia de restauração florestal. Ela vai avaliar a estocagem de carbono em diferentes idades de plantio, ou seja, como era a estocagem anterior ao plantio e como está no pós-plantio. Para levantar estes dados será utilizada a tecnologia Lidar, que é um equipamento acoplado em um avião ou drone. Ao sobrevoar ele escaneia toda a área florestal. Assim, se consegue um mapa 3D-tridimensional da estrutura da floresta. “Esta tecnologia nos permite extrapolar todos os lados e ângulos de restauração do Pontal, nos quais desenvolvo a pesquisa, como a fazenda Rosanela. A hipótese do meu trabalho é que áreas mais jovens acumulam pouco carbono agora, e áreas mais velhas acumulam mais. Nesse sentido elas podem se sustentar futuramente sem a intervenção antrópica (humana), por exemplo, devastação, assoreamento de rios, entre outras”, esclareceu.