Embora pouco reconhecidas no meio científico e da conservação da biodiversidade, e com muitas barreiras a enfrentarem também neste setor, as mulheres têm papel fundamental no exercício de atividades socioambientais. No IPÊ, as mulheres são maioria nos cargos de liderança e coordenam equipes em cerca de 30 projetos espalhados no Brasil. No Dia Internacional das Mulheres, para homenagear mulheres de destaque na conservação da natureza, perguntamos a cinco lideranças femininas do Instituto quem são as mulheres que as inspiram e que fizeram ou fazem a diferença na conservação da vida no planeta.
Marina Silva
Suzana Machado Padua, presidente do IPÊ e doutora em Educação Ambiental, destaca a ministra do meio ambiente Marina Silva como uma mulher que a inspira. “A trajetória de vida de Marina Silva é inspiradora! Construiu sua bagagem a partir de múltiplos aprendizados que absorveu no convívio com diferentes culturas encontradas no Brasil, algumas “invisíveis” à maioria dos cidadãos do país. E ainda somou a tudo isso muito estudo e leitura de pensadores, que hoje servem de base à sua vida pessoal e profissional. Sua coerência e lucidez inspiram quem a ouve (com ouvidos e coração), e facilmente percebe sua paixão por tudo o que é brasileiro! Em sua marcante empatia, Marina vibra com a vida, seja da encontrada na imensidão da natureza, seja na sabedoria das culturas tradicionais, ou mesmo no conhecimento produzido no mundo científico. Sua volta como Ministra do Meio Ambiente me traz esperança de que o Brasil será valorizado como merece”, afirma.
(Foto: Arquivo pessoal Suzana Padua)
Sharon Matola
A cientista do IPÊ, Patrícia Medici, uma das maiores pesquisadoras da anta brasileira no mundo, destaca Sharon Matola, como uma das lideranças femininas mais importantes na conservação da biodiversidade e uma das que mais a impulsionou em sua carreira. Sharon foi uma bióloga e ambientalista americana, que faleceu em 2021.
Em 1983, com pouco dinheiro, fundou o Zoológico de Belize, uma instituição que ajudou a despertar o orgulho nacional pelos tesouros ecológicos do país e é celebrada em todo o mundo como um modelo de conservação criativa.
“Ela foi a verdadeira alma trás do Zoo de Belize. Tem toda uma história incrível. E ela foi a presidente do grupo especialista das antas antes de mim, me trouxe para o grupo e – depois – me nomeou como presidente. A Sharon foi uma grande inspiração para minha entrada no cenário internacional de conservação das antas, o que deu um grande impulso para a nossa pesquisa”, diz Patrícia.
(Foto: Belize Zoo)
Emília Snethlage
A primeira mulher a dirigir uma instituição científica no Brasil, Emília Snethlage foi a escolhida pela bióloga do IPÊ, Simone Tenório. Emília, que viveu entre 1868 a 1929, foi pioneira em muitas coisas, inclusive em fazer um doutorado em Filosofia Natural na Alemanha e ser contratada para trabalhar no Museu Paraense Emílio Goeldi. Como ornitóloga, suas expedições para catalogar aves deram origem a uma das obras mais influentes da área, além de terem revelado uma importante descoberta cartográfica.
“Ainda estudante de Biologia, me interessei pelas aves e conheci a história dessa grande ornitóloga, uma das primeiras mulheres a se graduar na Alemanha e que veio sozinha para o Brasil. Trabalhou documentando e descrevendo aves brasileiras e fiquei absolutamente encantada com a coragem e a garra dessa mulher, e para mim foi uma inspiração. Além de toda a parte acadêmica era pioneira nas atividades de campo, viajando com indígenas e com sua esquipe, atravessando longas extensões a pé, a cavalo ou de barco.
Ela enfrentou todas as dificuldades e adversidades de uma cientista em um mundo totalmente masculino e machista, e liderava expedições à campo em plena Amazônia. Suas histórias são incríveis, como quando ela amputou o próprio dedo depois de infectado por mordida de piranhas, e quando nem mesmo a malária consegui detê-la, quando caminhou quilômetros em plena floresta, durante os tremores da doença.
Impunha respeito com toda a competência e humildade com sua equipe de campo, desbravou seu espaço e como consequência o de outras mulheres, servindo de exemplo. Essa é a mulher cientista que me instigou a seguir meu caminho na conservação”, comenta Simone.
(Foto: Museu Emílio Goeldi)
Katia Torres Ribeiro
O Programa Monitora, gerenciado pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, é uma iniciativa de grande impacto para a conservação da biodiversidade em Unidades de Conservação federais. Katia Torres Ribeiro foi coordenadora geral de pesquisa e monitoramento da biodiversidade do ICMBio de 2013 a 2019, idealizando e implementando essa iniciativa da qual o IPÊ fez parte com o projeto Monitoramento Participativo da Biodiversidade, aplicado em 18 UCs da Amazônia, formando mais de 4 mil monitores. A Katia é inspiração para Fabiana Prado, coordenadora de projetos do IPÊ na Amazônia, que vivenciou a implementação deste programa.
“Nos últimos 10 anos a Katia construiu e implementou este que é o maior programa de monitoramento da biodiversidade para o Brasil, contribuindo para metas da CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica. São desafios diários para coordenar um programa dessa magnitude e que significa muito pra biodiversidade do país, já que a proposta foi unir comunidades, gestores de áreas protegidas e organizações da sociedade civil em pensar soluções para o uso sustentável da biodiversidade, e meios para sua proteção a partir de métodos de monitoramento que levavam em conta os saberes científicos e populares, das comunidades tradicionais. Um número muito grande de espécies foi levantado e meios de proteção de fauna e flora foram estabelecidos, com participação social, o mais importante. Um trabalho enriquecedor e que teve uma grande profissional à sua frente”, comenta Fabiana.
(Foto retirada do Youtube)
Karen Strier
A antropóloga Karen Strier é o destaque na conservação da biodiversidade para a pesquisadora do IPÊ, Gabriela Cabral Rezende. Pudera. Karen, assim como Gabriela, estuda macacos. Neste caso, o muriqui-do-norte. (Brachyteles hypoxanthus). Nasceu nos Estados Unidos, mas mudou-se para o Brasil no começo dos anos 80, onde encontrou sua grande paixão, os muriquis. Foi presidente da Sociedade Internacional de Primatologia até 2022.
“Karen atua na conservação de primatas brasileiros e já trabalha no Brasil com conservação dos muriquis há quase 40 anos. Sempre teve foco em capacitar pessoas para trabalhar com pesquisa de primatas. Além de ter um projeto bem estabelecido para monitorar esses animais, ela formou pesquisadores brasileiros e estagiários. Mais de 80 pessoas já passaram pelo seu programa de treinamento na RPPN de Caratinga. Além da sua pesquisa, ela traz essa grande contribuição para a conservação da natureza, que é possibilitar conhecimento para que mais profissionais possam continuar atuando na primatologia do Brasil. Além de ser uma pessoa extremamente acessível, o que facilita a troca de experiências. Como presidente da Sociedade Internacional de Primatologia, deu também visibilidade aos primatas do Brasil, local com maior diversidade de macacos do mundo.
A Karen começou o trabalho com os muriquis de Caratinga quando ela tinha 24 anos, mesma idade que eu comecei a estudar o mico-leão-preto. É uma grande fonte de inspiração para mim, de pensar que um dia, quem sabe, eu possa chegar a ter todo o reconhecimento que ela tem como pesquisadora e mulher na primatologia”, comenta Gabriela.
(Foto: João Marcos Rosa – Nitro)