Um dos grandes desafios de organizações que atuam com a conservação da fauna encontra-se na mobilização de recursos para o desenvolvimento de seus projetos e pesquisas. Esse foi um dos principais levantamentos feitos pelo IPÊ com organizações que participam do PAN- MAMAC, o Plano de Ação Nacional para Conservação dos Mamíferos da Mata Atlântica Central. O PAN MAMAC é uma iniciativa do ICMBio* que determina quais as ações necessárias para a conservação de 27 espécies desta área do bioma que se encontram ameaçadas de extinção.
Para apoiar instituições atuantes nessa área, o IPÊ deu início ano passado ao projeto “Multiplicando Saberes: capacitação das instituições participantes do PAN MAMAC para mobilização financeira”, com recurso do programa TFCA – Tropical Forest Conservation/Funbio. Após um primeiro seminário com a participação de 12 instituições, ainda em 2013, cada representante das organizações ficou com o desafio de criar uma proposta de mobilização de recursos para um projeto de conservação, e apresentá-la em um novo seminário. O desenvolvimento das propostas foi realizado sob a orientação de profissionais de áreas diversas: finanças, conservação, comunicação e captação de recursos. Assim, entre 15 e 17 de janeiro, sete organizações apresentaram essas propostas à avaliação de uma banca composta pelos próprios orientadores e convidados.
“A ideia deste segundo seminário foi reunir um grupo heterogêneo de profissionais, com grande experiência em suas respectivas áreas de atuação, para que fizessem uma análise das propostas apresentadas e contribuíssem com dicas importantes para a sua finalização, de forma a deixá- las muito mais competitivas, ampliando o potencial de mobilização de recursos. Isso acabou se transformando em uma consultoria individual e institucional”, afirma Andrea Peçanha (foto), uma das coordenadoras da iniciativa.
Para Silvia Neri Godoy, analista ambiental do CENAP, ter a chance de apresentar uma proposta para um banca especializada foi uma experiência importante. “Ouvir as palestras e os profissionais foi ótimo [no primeiro módulo], mas ter meu trabalho orientado e um segundo módulo com apresentação dele para a avaliação, superou as minhas expectativas. Vou aplicar todas as contribuições e pretendo apresentar a proposta que eu desenvolvi com apoio desse curso para colocar o meu projeto em prática”, afirmou.
Captação e Planos de Ação
Os trabalhos apresentados pelas instituições foram bastante heterogêneos em suas propostas e tinham como ponto comum o direcionamento para as ações dos Planos de Ação para conservação de espécies, que iam, inclusive, além do PAN-MAMAC. Este foi o caso do Instituto Pró-Carnívoros, cuja proposta de trabalho está ligada aos PANs de conservação da onça-parda e onça-pintada. Para Ricardo Boulhosa, coordenador executivo do Instituto, os planos de ação são positivos em propostas de captação para projetos de conservação. “Com certeza estes documentos oficiais agregam força na proposta institucional. Hoje muitos editais tanto governamentais como privados solicitam que as propostas contenham ações previstas pelos PANs”, diz.
Entretanto, verifica-se nos últimos anos uma dificuldade em levantar recursos para o desenvolvimento de atividades dos planos de ação. Um dos avaliadores de propostas convidados para a banca do projeto do IPÊ, Leandro Jerusalinsky, reitera a necessidade de recursos financeiros para que os PANs possam ser colocados em prática e serem efetivos.
“O mais importante dessa experiência, e deste projeto do IPÊ como um todo, é que ela toca em um ponto chave que é a viabilização de projetos para a execução dos PANs [Planos de Ação nacionais para conservação de espécies]. E um dos maiores gargalos disso está justamente na viabilização financeira para as instituições poderem formar equipe, estruturar o projeto e tudo o que se refere ao desenvolvimento de uma pesquisa de conservação”, diz Leandro (foto), que também coordena o CPB – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (ICMBio).
Diversificar é a chave
Além das apresentações dos trabalhos, na segunda etapa do projeto, os participantes ainda assistiram a palestras sobre mobilização de recursos e ferramentas de captação, com Rodrigo Alvarez (IDIS) e João Paulo Vergueiro da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos). O objetivo foi mostrar as formas criativas e inovadoras de mobilizar recursos para projetos socioambientais, uma necessidade cada vez mais crescente. “Escrever propostas para editais ou parceiros empresariais é somente uma dessas ferramentas. É necessário diversificar e pensar, inclusive em captação com pessoas físicas”, afirmou João Paulo, em sua palestra no IPÊ.
“Uma grande lição que ficou para mim foi justamente a necessidade de diversificação das fontes de recursos financeiros para projetos e as formas de captação. Os seminários também nos apontaram para a necessidade de estruturação e fortalecimento institucional das organizações de terceiro setor, o que é uma coisa necessária nesse processo e que faz diferença para conquistar apoio”, afirma a veterinária Juliana Griese, diretora executiva do Instituto Itapoty (foto).
Veja mais depoimentos sobre o curso aqui.
Sobre o PAN MAMAC
Os Planos de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção ou do Patrimônio Espeleológico (PANs) são políticas públicas para combater ameaças que colocam em risco populações de espécies e seus ambientes naturais e assim protegê-los. A sua organização é promovida pelo ICMBio, em parceria e participação de diversos atores, entre eles, as organizações ambientais. Os planos são calculados para cada cinco anos e implementados por meio de ações de diversos órgãos e instituições.
O PAN MAMAC é o Plano de Ação Nacional específico para Conservação dos Mamíferos da Mata Atlântica Central. O plano tem objetivos, metas e ações para a conservação de 27 espécies ameaçadas de extinção, como o mico-leão-preto e o mico-leão-da-cara-preta, espécies das quais o IPÊ atua pela conservação, inclusive participando da elaboração de um plano de conservação junto ao ICMBio. Até dezembro de 2015, as ações do PAN-MAMAC que está em vigor deverão ser implementadas e avaliadas.
Para saber mais sobre o PAN MAMAC, acesse: http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/plano-de-acao/372-pan-mamiferos-da-mata-atlantica.html
*ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade