Durante a segunda edição da Sexta ConsCiência de 2025— iniciativa que promove reflexões sobre temas ambientais e científicos — o IPÊ destacou as estratégias adotadas para enfrentar um dos principais desafios: os incêndios florestais, na região do Pontal do Paranapanema, área de atuação do projeto Corredores de Vida. O encontro reuniu 110 pessoas envolvidas na cadeia da restauração, além de representantes de órgãos ambientais como Fundação Florestal, ICMBio, Defesa Civil, Polícia Militar Ambiental, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, entre outros, além de professores da rede municipal.

Com o tema “Incêndios Florestais: Convivência, Prevenção e Monitoramento” o evento foi conduzido por Ronaldo Costa, engenheiro ambiental e integrante do PAME (Plano de Ação Mútua), que atua na região desde 2012 e está vinculado ao SEAE (Sistema Estadual de Atendimento às Emergências), coordenado pelo Corpo de Bombeiros. O PAME reúne instituições governamentais, privadas e não-governamentais, entre elas o IPÊ, que buscam ferramentas para prevenir incêndios, além é claro de trabalhar a conscientização junto à comunidade.

Durante o encontro, os participantes foram alertados sobre as temporadas críticas para ocorrências de incêndios, sobretudo nos períodos de seca, onde os fatores climáticos como umidade baixa do ar, geadas e aumento da velocidade do vento favorecem que o fogo se alastre. Entre as medidas preventivas, Ronaldo, destacou os aceiros e as linhas de defesa, ambas geram descontinuidade na vegetação, evitando na maioria das vezes que o fogo se propague.
Aceiros
Os aceiros são uma das medidas que o IPÊ utiliza para evitar as queimadas nos corredores ecológicos implantados ao logo de 25 anos, na região do Pontal do Paranapanema, com o plantio de mais de 10 milhões de mudas nativas da Mata Atlântica. Essas áreas restauradas abrangem 5.100 hectares, localizados em Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reservas Legais (RL) de propriedades rurais privadas. Já outra medida de prevenção é o monitoramento de toda região do Pontal, que beneficia não só o projeto Corredores de Vida como tambémUnidades de Conservação, entre elas, o Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD) e a ESEC Mico-Leão-Preto, além dos plantios produtivos das propriedades onde atuamos
Monitoramento
Além das ações preventivas em campo, o IPÊ também investe em tecnologias de monitoramento para ampliar a capacidade de resposta diante de focos de calor. Um dos recursos utilizados é o Pantera, aplicativo desenvolvido pela climatech brasileira umgrauemeio. A ferramenta realiza o monitoramento inteligente de áreas florestais, por meio de imagens de satélite, alertas automáticos e georreferenciamento de ocorrências.
Durante a Sexta ConsCiência, Osmar Bambini, cofundador da umgrauemeio, apresentou a tecnologia e destacou os benefícios do sistema, que permite a detecção precoce, resposta ágil e maior eficiência na proteção das áreas restauradas. A integração desse tipo de solução tecnológica é fundamental para minimizar os danos ambientais e proteger não apenas os corredores ecológicos implantados pelo IPÊ, mas também as propriedades vizinhas e as comunidades do entorno.
Prevenção em Curso
O IPÊ atento à importância da prevenção a incêndios florestais, vai além de eventos educativos como a Sexta ConsCiência, e busca também trazer parceiros para ministrar cursos. O mais recente foi realizado em abril, em parceria com o Senar e o Sindicato Rural de Presidente Epitácio, com o tema “Incêndio: Prevenção e Combate no Campo”, ministrado pelo técnico em segurança do trabalho, Everson Olbera.
A formação abordou medidas preventivas e técnicas de combate a incêndios na zona rural, com foco na proteção de vidas, propriedades e do meio ambiente. Claudinei dos Santos, líder de equipe, na MM Soluções Ambientais Ltda, destacou a abordagem prática da formação. .“O professor nos apresentou técnicas para prevenir incêndios e também agir rapidamente, caso eles aconteçam, com auxílio de equipamentos como abafador, máquina costal e assoprador. . “Tudo que aprendi aqui vou replicar para minha equipe de trabalho nos momentos de Diálogos Diários de Segurança (DDS) porque a prevenção é o melhor caminho”, explicou.
Prevenir incêndios é uma missão coletiva
Para Haroldo Borges Gomes, coordenador de campo no IPÊ, trazer o tema dos incêndios florestais para a Sexta ConsCiência foi uma escolha estratégica. “Nós, que atuamos na cadeia da restauração, precisamos compreender o fogo em toda a sua complexidade — reconhecendo tanto seus benefícios quanto os impactos negativos. É um tema interdisciplinar, que atravessa áreas como a educação, a saúde humana e as mudanças climáticas”, afirmou.
Haroldo reforçou que a prevenção de incêndios não é responsabilidade isolada: “Resumindo: prevenir incêndios é uma missão coletiva”.
Sexta ConsCiência
A Sexta ConsCiência é uma iniciativa do projeto ARR Corredores de Vida, uma parceria entre o IPÊ e a Ambipar. O evento é inspirado nas Manhãs com Ciência, realizadas pelo IPÊ há mais de 20 anos, e tem como objetivo fortalecer a cultura de prevenção, diálogo técnico e troca de saberes entre diferentes atores do território.
Evite práticas que podem provocar incêndios florestais
Durante a troca de experiências na Sexta ConsCiência, os participantes reforçaram a importância da conscientização sobre práticas comuns com potencial de provocar focos de incêndio, tanto no campo quanto na cidade. Entre os principais riscos apontados, a maioria é provocada pelo homem:
- Queima de lixo doméstico ou agrícola
- Bitucas de cigarro jogadas às margens das rodovias
- Queimadas intencionais e incêndios criminosos
- Descargas elétricas provocadas por raios
- Além de conhecer os riscos, os participantes destacaram o papel fundamental da comunidade na prevenção e resposta rápida.
“Percebi o quanto a participação da comunidade é essencial em situações de incêndio, porque o fogo muitas vezes surge de onde menos se espera. Em casos de acidentes, a comunicação imediata é fundamental para que o Corpo de Bombeiros e as equipes de brigadistas possam agir com rapidez e evitar maiores danos”, afirmou Wagner Mendes, sócio-proprietário da WM Soluções Ambientais.
Boas práticas em ação: 10 anos sem queimadas no Parque Estadual Morro do Diabo
Um exemplo concreto da eficácia das estratégias de prevenção é o Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD), que há dez anos não registra ocorrências de queimadas. Com aproximadamente 34 mil hectares de Mata Atlântica, a unidade de conservação é administrada pela Fundação Florestal e está localizada, em Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema.
Segundo o gestor do parque, Eriqui Inazaki, esse resultado positivo é fruto de uma combinação de ações preventivas e articulação com diferentes atores do território.
“Acredito que este resultado está ligado à manutenção de aceiros e à articulação com instituições parceiras e moradores do entorno. Além disso, quando focos surgem fora do parque, há uma comunicação ágil, que permite acionar rapidamente os órgãos responsáveis e evitar que o fogo atinja as áreas florestais”, explicou.