Em uma manhã nublada, pesquisadores munidos com trenas, martelos, placas de identificação e demais equipamentos se aventuraram nas áreas de florestas de Mata Atlântica plantadas em propriedades rurais com destaque para a fazenda Rosanela e assentamentos, no Pontal do Paranapanema, extremo Oeste do estado de São Paulo.
Tais áreas são resultado de reflorestamentos realizados pelo IPÊ, em parceria com grandes e pequenos produtores rurais, empresas e comunidade local.
No campo, os pesquisadores medem os troncos das árvores, coletam galhos, folhas e porções de solo. Tais ações são em prol da ciência já que o estudo busca identificar qual o número de espécies arbóreas existentes nestas novas florestas e, principalmente, levantar dados sobre o potencial que estas matas reflorestadas têm de retirar carbono da atmosfera do estado de São Paulo. Vale ressaltar que o processo de armazenar carbono é positivo, pois contribui com a retirada das emissões que provocam as mudanças climáticas.
O pós-doutorando Ricardo Gomes César é o coordenador da frente de Carbono da pesquisa que inclui as mestrandas da ESCAS/IPÊ – Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade – Aghata Comparin Artusi e Thaisi Baech Sorrini. Os pesquisadores são vinculados ao projeto “Desenvolvimento de Procedimentos Simplificados para a Valoração Econômico-monetária de Serviços Ecossistêmicos e valoração não monetária de Serviços Ecossistêmicos Culturais Associados à Restauração Florestal”, uma parceria do IPÊ com a CTG Brasil, uma das líderes de geração de energia limpa do País, por meio de um projeto de Pesquisa & Desenvolvimento – P&D da ANEEL.
São parceiros do projeto a Fealq – Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, da Esalq/USP; o Lastrop – Laboratório de Silvicultura Tropical, da Esalq/USP; a Universidade de Lavras; GVCes, da Fundação Getúlio Vargas; Weforest e Rainforest Connection. O projeto de P&D é realizado por dezenas de pesquisadores espalhados em diversas frentes de estudo que buscam levantar dados sobre o potencial das florestas paulistas em fornecer água e conservar a biodiversidade.
“O Pontal é uma região-chave neste estudo por ser uma área de fragmentos de Mata Atlântica de interior e de áreas restauradas. Nossa frente no projeto tem como foco levantar dados sobre o quanto essas áreas sequestram de carbono da atmosfera e o quanto isso beneficia o estado de São Paulo”, pontuou.
No solo, o carbono, geralmente, está na forma de matéria orgânica em decomposição (folha, galho,raiz). “Existe nesta matéria morta um estoque importantíssimo, pois a metade do carbono das florestas tropicais está estocado no solo. Porém, estes números dependem da idade da floresta e da região. Ao final deste estudo, meados de 2022, vamos ter estes dados”, conta.
Para chegar aos números, cada uma das mestrandas irá direcionar seus estudos em uma linha de pesquisa. A estudante Ághata está focada em avaliar o estoque de carbono em várias tipologias florestais como: fragmentos conservados; plantios; sistema agroflorestal (SAF); e fragmentos degradados. “Ao término do estudo será possível identificar qual tipologia tem mais capacidade de reter carbono, e qual tem menos. Tais dados serão úteis em projetos de neutralização de carbono ou mercado de carbono”, relatou.
Já Thaisi (foto) esclarece que sua pesquisa é na tipologia de restauração florestal. Ela vai avaliar a estocagem de carbono em diferentes idades de plantio, ou seja, como era a estocagem anterior ao plantio e como está no pós-plantio. Para levantar estes dados será utilizada a tecnologia Lidar, que é um equipamento acoplado em um avião ou drone. Ao sobrevoar ele escaneia toda a área florestal. Assim, se consegue um mapa 3D-tridimensional da estrutura da floresta. “Esta tecnologia nos permite extrapolar todos os lados e ângulos de restauração do Pontal, nos quais desenvolvo a pesquisa, como a fazenda Rosanela. A hipótese do meu trabalho é que áreas mais jovens acumulam pouco carbono agora, e áreas mais velhas acumulam mais. Nesse sentido elas podem se sustentar futuramente sem a intervenção antrópica (humana), por exemplo, devastação, assoreamento de rios, entre outras”, esclareceu.
Benefícios das pesquisas
O coordenador da frente de Carbono acrescenta que a tecnologia Lidar é importante porque permite, por exemplo, após constatar que na área “A” (plantio antigo) tem 20 quilos de carbono e ao escanear uma outra área “B” (plantio novo) é possível comparar dados entre as duas e fazer estimativas. Inclusive é possível estimar quando as árvores da área “B” vão estar estocando 20 quilos de carbono como na área “A”, somente comparando as imagens de escâner de ambas.
No futuro estas pesquisas podem trazer inúmeros benefícios, entre eles, uma fiscalização ambiental mais econômica e eficiente no estado de São Paulo. Por exemplo, com dados Lidar e imagens de satélite é possível monitorar as florestas reduzindo o trabalho de campo. Assim, é provável gerar economia de recursos públicos. Outro benefício dessa tecnologia é o monitoramento, praticamente, em tempo real das florestas no Pontal do Paranapanema, incluindo levantamento de onde as florestas estão se desenvolvendo e onde há degradação. “Esta tecnologia de monitoramento permite melhorias ecológicas e econômicas palpáveis”, diz César.
O pesquisador chama atenção para o fato de o Pontal ser uma região com muitos sistemas agroflorestais, como o Café com Floresta. Neste caso, a pesquisa é positiva porque o produtor rural terá a opção de escolher dentre os múltiplos benefícios qual floresta se adequa em sua propriedade. Os dados, tanto para os pesquisadores como para os produtores, também vão permitir mensurar o valor das florestas, onde se pode encontrar uma floresta para conservar, para ganhar dinheiro, ou para proteger o solo.
Ele ainda destaca que a pesquisa no Pontal vai permitir uma ampla avaliação sobre quais são as benfeitorias do sequestro de carbono nos quesitos ecológicos, sociais e econômicos. Esta estimativa vai possibilitar que agropecuaristas, empresários e o poder público façam melhores escolhas em relação ao uso do solo paulista.
Outro benefício do estudo é, ao apurar o potencial de diferentes tipologias, identificar quais florestas conseguem conservar a biodiversidade, produzir economia e sequestrar carbono. “Por exemplo, um plantio de eucalipto puro vai sequestrar muito carbono, mas talvez não conserve tanto a biodiversidade, já um SAF pode conservar mais a biodiversidade, porém vai sequestrar um pouco menos de carbono em relação ao eucalipto. Ambos os plantios geram renda. Os dados vão permitir fazer comparativos altamente positivos”, explicou César.
Pesquisa inédita
O ineditismo deste trabalho está em amostrar carbono abaixo do solo de várias tipologias de florestas, sendo que, geralmente, os trabalhos de campo são focados na parte arbórea acima do solo. Para coleta de dados no solo a equipe utiliza dois equipamentos manuais: o trado e o anelzinho volumétrico. Todo o material coletado será analisado em laboratório com processos de pesagem e secagem em estufa para avaliar o solo na sua parte física, estrutural e química. Após todo o processamento é utilizada uma equação que permite quantificar o estoque de carbono no solo.
“O sonho dos pesquisadores é que a tecnologia Lidar em conjunto as imagens de satélite ao longo do projeto possam se entrelaçar com o potencial da floresta com intuito de proteger o solo, infiltrar água, proteger a biodiversidade, ampliar o habitat para a onça-pintada, o mico-leão-preto, entre outras espécies. Tudo isso seria muito benéfico. Mas, estamos no caminho, já que o trabalho começa medindo a árvore no chão”, finalizou César.