A origem do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas está nas iniciativas de conservação do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), na região de Pontal do Paranapanema, no estado de São Paulo, projeto que completou 40 anos em 2024. O foco em pesquisas para conservação de fauna sempre esteve no horizonte da organização que avançou com estudos para proteção de outras espécies como da anta-brasileira (Tapirus terrestris) e tatu-canastra (Priodontes maximus). Ao longo da sua história, o IPÊ já trabalhou em projetos com mico-leão-da-cara-preta, peixe-boi-da-Amazônia, onça-pintada, sauim de coleira, muriqui, onça-parda e pequenos mamíferos. Os dados foram utilizados para: incrementar os dados científicos sobre as espécies e a Biologia da Conservação; influenciar planos de conservação nacionais e internacionais; conduzir planos de manejo em Unidades de Conservação; e ainda criar políticas públicas em favor da fauna nativa.
O trabalho com fauna dialoga diretamente com a meta 4, das 23 estabelecidas pelo Acordo Global de Biodiversidade, firmado durante a COP15 em Montreal e que será debatido ao longo da COP16, em Cali. A meta determinaque os países devem “assegurar ações de gestão urgentes, para deter a extinção induzida pelo homem de espécies ameaçadas conhecidas e para a recuperação e conservação de espécies, em particular espécies ameaçadas, para reduzir significativamente o risco de extinção, bem como para manter e restaurar a diversidade genética dentro e entre as populações de espécies nativas, espécies selvagens e domesticadas para manter seu potencial adaptativo, inclusive por meio da conservação in situ e ex situ e práticas de manejo sustentável, e gerenciar com eficácia as interações entre humanos e animais selvagens para minimizar o conflito entre humanos e animais selvagens para a coexistência”.
Principais avanços das pesquisas de fauna do IPÊ
Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto: Em 40 anos, o IPÊ identificou mais de 10 populações de micos e contribuiu para o manejo e estabelecimento de uma nova população. Os esforços levaram à mudança no status de sua conservação, de “criticamente ameaçada” para “ameaçada”, na lista vermelha internacional (IUCN). O IPÊ beneficia o hábitat da espécie, por meio da restauração florestal, bem como as pessoas que vivem na região, com ações de educação ambiental e negócios voltados para a conservação da biodiversidade. O mico-leão-preto é reconhecido como espécie símbolo da conservação da fauna e patrimônio ambiental do estado de São Paulo.
Em janeiro de 2024, o programa realizou a sexta translocação de micos-leões-pretos na Mata Atlântica de interior. Desta vez, deslocou um grupo de cinco indivíduos do Parque Estadual Morro do Diabo (SP) para um fragmento florestal em área de Reserva Legal, também na região do Pontal do Paranapanema com menos de 20 indivíduos. O objetivo é aumentar as chances de a população local do fragmento continuar existindo no médio e longo prazo.
Crédito da foto: Lucas Leoni
Dados do monitoramento dessa translocação recente em área de Reserva Legal da Fazenda San Maria, mostram que, após oito meses, dois dos cinco micos permanecem juntos. “Estão em andamento tentativas de recaptura do grupo para avaliar a condição de saúde dos animais e identificar quais indivíduos ainda fazem parte do grupo”, revela Gabriela Cabral Rezende, coordenadora da iniciativa.
Gabriela destaca que, apesar de todos os desafios, a translocação é a ferramenta mais vantajosa para populações em risco em decorrência do baixo fluxo gênico. “As principais ações que contribuíram para salvar o mico-leão-preto da extinção incluíram o manejo de populações, feito através de movimentações de micos-leões de um fragmento a outro onde a espécie não era mais encontrada. Isso resultou no estabelecimento de uma nova população. O manejo de populações é uma estratégia de curto prazo que deve ser trabalhada junto com o manejo do hábitat – a restauração”, completa a coordenadora do Programa.
INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira: Com quase três décadas de atuação, a INCAB, projeto do IPÊ, conseguiu criar o maior banco de dados sobre a anta brasileira (Tapirus terrestris) no mundo. É um valioso recurso para entender o animal, as ameaças e as oportunidades de conservação em todo o Brasil. As metodologias e resultados das pesquisas apoiam cientistas que trabalham com variadas espécies de anta em diferentes países. Atualmente, a iniciativa tem pesquisas realizadas em quatro biomas brasileiros (Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e Amazônia). Os dados da INCAB já foram, por exemplo, utilizados no Plano de Ação Nacional para Ungulados Ameaçados.
Crédito da foto: Raquel Alves/IPÊ
A iniciativa atualmente continuaa implementar medidas mitigatórias para as ameaças à espécie, como caça, colisões veiculares, incêndios florestais, contaminação por agroquímicos e metais e mineração. Nos próximos anos, realizará o sequenciamento do genoma de 50 antas para estudar a conectividade entre populações e identificar aquelas que podem precisar de resgate genético, além de pesquisar a saúde dessa espécie, realizar o mapeamento e monitoramento de fungos, bactérias e vírus, e expandir a detecção de agroquímicos e metais nesses animais e em seres humanos para outras áreas do Cerrado e para outros biomas.
Projeto Tatu-Canastra: As pesquisas sobre a espécie foram fundamentais na orientação para criar áreas protegidas e corredores de conservação no Mato Grosso do Sul. Além disso, o projeto foi instrumental na formação de brigadas comunitárias de combate a incêndios em Nhecolândia, que engloba 22 fazendas no Pantanal, protegendo uma área de 1.600 km². Por fim, o projeto Canastras e Colmeias conseguiu eliminar a retaliação de apicultores contra os tatus-canastras no Cerrado sul-mato-grossense, e agora está se expandindo para outras regiões do Brasil.
Crédito: Arquivo Tatu-canastra