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O grande prêmio do Whitley Fund for Nature (WFN) – o Whitley Gold Award – foi concedido pelo comitê do evento à Patrícia Medici, coordenadora da INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, projeto do IPÊ, instituto do qual é cofundadora. Há 24 anos liderando ações de conservação da anta brasileira e seu habitat, o trabalho de Patrícia deu origem ao maior banco de dados sobre a espécie no mundo. Suas contribuições para o estudo da espécie e para a ciência de maneira geral são inspiração para estudantes e pesquisadores de diversos países. As ações de Patrícia reúnem pesquisa de campo, práticas de conservação, educação ambiental, comunicação, treinamento e capacitação. Soma-se a isso o desenvolvimento de planos para redução de ameaças e políticas públicas que beneficiam a espécie e seus habitats. Os resultados deste trabalho têm sido impactantes para a vida não só das antas como também de outras espécies animais e vegetais e seres humanos em vários biomas: Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e, agora com o prêmio, na Amazônia.
A anta é o maior mamífero terrestre da América do Sul e é considerada um fóssil vivo que sobreviveu a diversas ondas de extinção ao longo de milhões de anos de sua história evolutiva. No entanto, a espécie enfrenta agora uma variedade de ameaças causadas pelo homem, incluindo a destruição e fragmentação do habitat devido à expansão da agricultura em larga escala, pecuária, atropelamentos em rodovias, caça, mineração, entre outras.
“Ao estudar e defender a causa da conservação da anta brasileira, estamos defendendo também as nossas próprias vidas, nossos recursos naturais e nossa saúde. Considerada a jardineira das florestas, a anta promove a renovação desses ambientes através da dispersão de sementes. Diversas espécies de plantas somente existem porque suas sementes passam pelo trato digestivo da anta. A anta ‘brinca’ com a composição e diversidade da floresta e é grandemente responsável pela formação e manutenção da integridade desses ambientes”, explica Patrícia.
Apesar de ser tão importante para os ecossistemas, a anta sofre de um estigma que só existe no Brasil, o de ser considerado um animal com pouca inteligência. Para resolver este problema e levar mais informações para as pessoas, Patrícia, sua equipe e demais apoiadores da causa mantêm uma hashtag nas redes sociais: #antaÉelogio. Para a pesquisadora, a comunicação com o grande público é fundamental para que a ciência alcance mais pessoas e para que se tenha uma maior compreensão sobre a importância da biodiversidade não só para animais silvestres, mas também para os seres humanos, que são parte dessa biodiversidade.
Patrícia cita como exemplo o trabalho da INCAB no Cerrado do Mato Grosso do Sul, que identificou o impacto causado por agrotóxicos e por os acidentes com veículos em rodovias, ameaças que têm reduzido o número de antas no bioma.
“Temos que pensar que tanto os agrotóxicos quanto os atropelamentos em rodovias têm impactos sobre a vida silvestre e também sobre nós, seres humanos. Muitas pessoas são seriamente afetadas pelo uso indevido de agrotóxicos. As nossas pesquisas mostram também que muitas pessoas perdem suas vidas em colisões com antas nas rodovias brasileiras, sobretudo pela falta de medidas de segurança que impeçam a travessia dos animais e falta de sinalização. Juntamente com os Ministérios Públicos (Estadual e Federal), estamos usando nossa base de dados de pesquisa para requisitar aos governos estadual e federal a implementação de medidas eficazes para combater e mitigar essas problemáticas. É para isso que contamos com a ciência e os cientistas, para a aplicação de seus resultados na prática, para o bem de todos”, defende a engenheira florestal.
O Whitley Fund for Nature (WFN) tem apoiado o trabalho de Patrícia pelos últimos 12 anos, contribuindo enormemente para a expansão das ações da INCAB por todo o Brasil. Patrícia iniciou sua pesquisa na Mata Atlântica em 1996 e, com ajuda do fundo, ampliou os esforços para o Pantanal em 2008 e para o Cerrado em 2015.
O Whitley Gold Award recebido esta semana será utilizado para o fortalecimento do trabalho da INCAB em todo o país. Na Mata Atlântica, parte do recurso será usada para uma reavaliação da população de antas no Parque Estadual Morro do Diabo. No Pantanal, as antas continuarão sendo monitoradas por meio de telemetria e de rastreamento por armadilhas fotográficas. No Cerrado, o trabalho busca estratégias para evitar que as antas sejam atropeladas em rodovias e também resolver as questões de contaminação por agrotóxicos e caça furtiva, em uma paisagem que enfrenta ameaças crescentes como o epicentro do desenvolvimento do Brasil. O novo trabalho na Amazônia se concentrará no estudo e na redução de ameaças a antas ao longo do arco sul do desmatamento nos estados de Mato Grosso e Pará.
Edward Whitley, fundador da WFN, disse: “O trabalho de Patrícia é vital para combater o desmatamento no Brasil e proteger esta espécie incrível que é a anta. Sua dedicação à pesquisa, à educação e à capacitação são um exemplo brilhante de um trabalho eficaz. Patrícia Medici é uma voz forte da conservação no Brasil e no mundo. Temos o privilégio de poder continuar a oferecer nosso apoio a esta causa. ”
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