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O 18º Congresso Brasileiro de Primatologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Primatologia (SBPr) de 6 a 10 de novembro, trouxe a educação para o centro dos debates, com o tema “Educando Primatas”. A abertura do evento, que aconteceu no Centro Cultural Higino, em Teresópolis/RJ, foi realizada pela presidente do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, Suzana Padua. Educadora ambiental, com grande experiência no relacionamento com comunidades, Suzana defende que o tema deve ser tratado como ciência, assim como outras atividades que envolvem a conservação de primatas no Brasil. Para ela, a educação precisa estar antenada ao que vem sendo desenvolvido em termos de comunicação no mundo, para conseguir alcançar públicos diversos, fazendo com que o tema ambiental não somente ensine, mas desperte o encantamento nas pessoas.
Na palestra de abertura, Suzana levou alguns dos aprendizados que teve ao iniciar o trabalho de educação para a conservação do mico-leão-preto no Pontal do Paranapanema, há cerca de 35 anos, quando as pesquisas sobre a espécie começaram de forma mais ampla nesta região de Mata Atlântica, extremo oeste de São Paulo. Desde então, a caminhada junto com o IPÊ foi a de buscar na educação, seja ela formal ou não, o impulso para multiplicar os conhecimentos adquiridos no campo pelos pesquisadores do Instituto e formar novos profissionais para atuarem em prol da biodiversidade brasileira.
Mais IPÊ no Congresso
Ao longo do congresso, o IPÊ também participou de simpósios e apresentações de trabalhos, mostrando os resultados das suas pesquisas científicas com o primata que é símbolo do estado de São Paulo, o mico-leão-preto. O trabalho mais recente, da coordenadora do Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto, Gabriela Cabral Rezende, refere-se a estudos de modelagem ecológica, que identificam atualmente quais são as áreas prioritárias para traçar estratégias de conservação para o animal. Trata-se de um novo método que busca identificar essas áreas levando em consideração as características da paisagem e o processo de fragmentação, uma vez que os micos dependem de ambientes florestais para viver e sobreviver.
Outro trabalho apresentado pelo programa de conservação do IPÊ foi sobre os resultados obtidos no monitoramento de uso dos ocos artificiais pelos micos. Leonardo Silva, também pesquisador do Programa, falou sobre os fatores que influenciam a escolha de ocos naturais pelos bichos. Essa pesquisa, desenvolvida em parceria com o Laboratório de Primatologia da UNESP Rio Claro, forneceu dados sobre quais os melhores modelos de ocos artificiais e melhores locais para posicioná-los na natureza, de modo que os micos passassem a fazer deles seus dormitórios em áreas com poucos ocos naturais disponíveis.
No Congresso, Gabriela também apresentou os resultados obtidos até o momento com os ocos artificiais, monitorados com câmeras (armadilhas fotográficas), o que permite aos pesquisadores analisarem o uso destes pelo mico e outras espécies. O monitoramento usando essas câmeras, apesar de já consagrado e muito utilizado para outros grupos de animais que andam no solo, é uma metodologia inovadora para o monitoramento de primatas, que são animais que se movimentam na copa das árvores (dossel). Os micos-leões-pretos são a segunda espécie de macaco brasileiro com as quais essa metodologia vem sendo aplicada. O trabalho foi apresentado durante um simpósio específico sobre o assunto, denominado “Armadilhas fotográficas no dossel: aplicações, eficiência e desafios”.
Tendências
Nessa edição, o congresso comemorou os 40 anos da SBPr e 40 anos do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), além de 80 anos do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO/ICMBio). Mais de 300 pessoas de quase todos os estados do Brasil e de mais 10 outros países estiveram presentes assistindo a mais de 300 trabalhos apresentados sobre os primatas brasileiros. Para Gabriela Cabral Rezende, o congresso buscou avançar em duas questões primordiais nos dias atuais, no que concerne a pesquisa e a conservação de primatas no nosso país: o uso de tecnologias para monitoramento das espécies em campo e a comunicação para conservação.
“Apesar de ter trabalhos de todas as áreas do conhecimento da primatologia, ali apresentados, conseguimos ver uma grande tendência sobre aplicação dos resultados dessas pesquisas na conservação das espécies. Isso é bastante relevante considerando que o Brasil é o país com maior diversidade de primatas do mundo, com 153 espécies e subespécies, sendo 23% destas ameaçadas de extinção, principalmente os primatas que vivem na Mata Atlântica e na região do arco do desmatamento. É imperativo que a gente trabalhe não só gerando conhecimento, mas aplicando-o na prática para a conservação. Diversos simpósios ao longo do congresso foram realizados com esse fim”, comentou.
A grande novidade, segundo ela, entretanto, foi a abertura para mais discussões sobre educação e comunicação na conservação de primatas. “Foi interessante debater sobre como a gente pode fazer com que todo esse conhecimento chegue a quem precisa chegar, ou seja, ampliando esse horizonte para outros públicos além dos primatólogos. As pessoas precisam compreender a importância dos primatas, para nos apoiarem na conservação”, conclui.
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