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A América Latina abriga grande parte da megadiversidade do planeta e, a cada dia, vem fortalecendo seu papel de liderança, especialmente por conta das soluções inovadoras e criativas com que implementa suas agendas de conservação. Mas, apesar de sermos essa potência, ainda é notória a nossa dificuldade (Academia, Organizações da Sociedade Civil e Governos) de mobilizarmos a sociedade sobre a importância das áreas protegidas e ações para sua conservação.
O Congresso de Áreas Protegidas Latino-americanas e do Caribe deste ano trouxe essa discussão à tona. O evento é sempre um momento de reflexão e troca entre todos aqueles que estão na ponta, realizando e participando de ações para uma efetiva conservação dessas áreas. Em sua terceira edição, conseguiu conectar as tendências de comportamento do mundo (que caminham sentido à inclusão social) com as questões necessárias à conservação das áreas protegidas.
As atividades despertaram para a urgência de se fazer com que a educação e a comunicação sejam processos participativos, que envolvam e mobilizem a sociedade, inspirando futuras gerações. E isso é algo de grande valor. Na construção de uma nova realidade socioambiental, da qual o IPÊ faz parte com seus projetos, temos sentido o quanto faz a diferença não só promover a participação de pessoas que vivem em áreas protegidas e redores na tomada de decisão em conservação, como também apoiá-las para que tenham condições de assumirem, de fato, o protagonismo dessa narrativa.
Neste contexto, foi interessante notar no Congresso o impacto da atuação de jovens, mulheres e indígenas, posicionando-se como grupos estratégicos e essenciais para a transformação. Embora últimas edições do evento esses grupos tivessem espaço de fala, este ano houve uma preocupação singular em construir espaços de diálogo apropriados aos diferentes perfis de participantes. A Maloca Indígena, por exemplo, foi um espaço onde mais de 220 etnias de indígenas puderam discutir e propor pautas para a manutenção dos seus direitos, modos de vida e assegurar seus territórios. Dessas trocas nesse espaço, nasceu uma carta dos indígenas com suas propostas e reivindicações. As comunidades extrativistas também estavam presentes e organizaram fóruns e palestras durante o congresso para discutir e se fortalecerem. Esse movimento proporcionou uma mistura de experiências inspiradora.
Em Lima, os jovens também assumiram um papel de destaque. Difícil não mencionar Lala, a adolescente de 12 anos, que falou sobre a sua experiência como a mais jovem guarda-parque na Colômbia. O que dizer também dos brasileiros representantes do Instituto Mapinguari, do Amapá? Eles se engajaram na cobertura do evento, com foco no protagonismo juvenil para a conservação. Ali, representaram o Brasil nas discussões com o lema “Exigimos, propomos e nos comprometemos”, elaboraram propostas e apoiaram a criação de uma Rede de Jovens para pautar mais mudanças e melhorias nos países latino-americanos e caribenhos.
Esse engajamento dos jovens é reflexo do que sentimos diariamente com os projetos que desenvolvemos em campo, onde a participação deles só cresce. No Monitoramento Participativo da Biodiversidade na Amazônia, quase 35% dos monitores formados têm até 30 anos e esse número deve aumentar em mais dois anos. Além de participarem mais ativamente nos processos de gestão das áreas (ou UC), fica nítido o interesse deles em desenvolver práticas de proteção dos recursos da biodiversidade.
Outro exemplo é o programa de voluntariado que desenvolvemos junto com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Dentre as 20.185 pessoas que se registraram como voluntárias nas Unidades de Conservação federais, mais de 40% tinham até 24 anos e, se considerarmos a faixa etária da IUCN – que considera jovens pessoas até 35 anos – essa porcentagem chega a quase 80%.
Além dos jovens, outro dado interessante do voluntariado é que, dentre todos os inscritos, as mulheres representam 69%, o que ajuda a reforçar a necessidade de promover mais espaços para que sejam ouvidas como protagonistas na conservação. Ali, durante o Congresso, uma declaração de mulheres com mais de 330 assinaturas ressaltou essa importância. Esse debate é urgente, pois há que se reconhecer que os desafios para a atuação da mulher na conservação têm sido historicamente maiores. Envolvem desde aspectos de sobrecarga de trabalho com outras atividades que acumulam no âmbito familiar, até questões relacionadas à violência. Ao fortalecer o protagonismo feminino, valorizando suas características e saberes, promovemos maior equidade no contexto socioambiental.
Abrir espaço para ouvir as mais diversas vozes que falam pelas nossas áreas protegidas e promover a troca de conhecimentos entre os diversos atores ajuda a aprimorar as estratégias de conservação. É assim que encontraremos campo fértil para avançar na promoção de soluções para desenvolvermos uma economia mais sustentável, com bem estar social. Como liderança para a conservação socioambiental, a América-latina deve priorizar essa tarefa.
As contribuições destes e demais grupos no Congresso de Áreas Protegidas servem para olharmos com mais foco e atuarmos verdadeiramente em rede, envolvendo capacidades multisetoriais. Elas deverão contribuir para a nossa evolução enquanto sociedade, com um olhar mais abrangente e consciente do papel dessas áreas florestais nas nossas vidas, como lugares fundamentais para salvaguardar os recursos naturais necessários, especialmente à sobrevivência humana.
Angela Pellin, coordenadora de projetos/IPÊ.
Cristina Tófoli, coodenadora de projetos/IPÊ.
Fabiana Prado, gerente de projetos e articulação institucional/IPÊ.
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