O IPÊ iniciou em maio as coletas de dados para análise do capital natural do maior corredor reflorestado do Brasil, no Pontal do Paranapanema (estado de São Paulo). Com mais de 1,5 milhão de árvores, o corredor conecta as mais importantes áreas florestais do oeste paulista, o Parque Estadual Morro do Diabo e a Estação Ecológica Mico-Leão-Preto, Unidades de Conservação que abrigam espécies ameaçadas de extinção como o mico-leão-preto, a onça-pintada e a anta brasileira.
A restauração do corredor começou em 2002. Ele passa por dentro da fazenda Rosanela, nas áreas de reserva legal e de proteção ambiental da propriedade. Hoje, já estabelecido, mostra seus resultados na paisagem com árvores nativas da Mata Atlântica bem consolidadas.
A partir de agora, um grupo de pesquisadores do Instituto busca compreender os serviços ecossistêmicos promovidos pelo corredor e valorar o capital natural desta grande área verde, ou seja, quais são exatamente os benefícios que o corredor traz para a água, o solo, a vegetação e a biodiversidade daquela região e o quanto o investimento em reflorestamento é válido. As respostas vão ajudar, inclusive, na criação de um guia para empresas do setor elétrico que possuem projetos de reflorestamento, informando (dentro do contexto local) quais as melhores formas de promover a restauração – de forma a aliar as necessidades socioeconômicas da empresa e do ambiente onde o projeto é executado.
Para que essa avaliação seja possível, foram instalados equipamentos que irão coletar dados importantes sobre animais, biomassa e recursos hídricos na região do corredor e também algumas áreas que o influenciam. Por exemplo, para medir se há presença de algumas espécies de aves e anfíbios, que utilizam o corredor para se alimentarem, foram instalados audiorecorders em 20 pontos ao longo dos 700 hectares de área, que irão detectar a presença dessas espécies por meio de ondas sonoras.
“Nosso foco é analisar se espécies de aves dispersoras de sementes e também aquelas sensíveis à fragmentação estão habitando ou utilizando o corredor, ou ainda se elas estão vindo do parque para essa área reflorestada. Ter espécies dispersoras é um bom sinal, por exemplo, de que a floresta tende a se estabelecer como uma área mais rica e com maior quantidade de recursos para animais”, comenta a bióloga Natália Moretti Rongetta.
Além da análise da biodiversidade, outras avaliações importantes sobre as funções ambientais da área já começam a ser feitas. Por exemplo, por meio de outro equipamento (LiDAR), serão medidos índices de biomassa da vegetação. Além disso, dentro dos limites do corredor, os pesquisadores também instalaram equipamentos em 18 pontos para coletar biofilmes em cursos d’água.
“Serão analisados o DNA de bactérias presentes na água que permeiam o corredor entre a Ponte Branca e o Parque Estadual Morro do Diabo. A partir disso, saberemos em cerca de 90 dias que tipos de microorganismos estão presentes ali e em que condições. Também com um flowtracker, iremos medir a vazão desses cursos d’água e a qualidade física do recurso”, explica a engenheira ambiental Anália Fernandes Carneiro.
A avaliação sobre os recursos hídricos no corredor também acontece em áreas de abrangência como no córrego Água Branca, que deságua no rio Paranapanema e o influencia significativamente. Ali, o IPÊ instalou duas estações de monitoramento de qualidade da água, para medir quantidade de chuva que cai na região, quantidade de água que deságua no rio, turbidez e nível de água.
“As duas estações usam placas solares para funcionarem. Esse é um procedimento piloto, que iremos conferir já no próximo mês. Mas, ao todo, serão seis estações como estas, espalhadas nas áreas de influência do corredor”, complementa Anália, bolsista da ESCAS pelo projeto.
O trabalho no corredor acontece por meio do projeto “Desenvolvimento de Tecnologias para Valoração de Serviços Ecossistêmicos e do Capital Natural em Programas de Meio Ambiente”, dentro do componente Pesquisa & Desenvolvimento, do IPÊ. Ele acontece em parceria com a Duke Energy Paranapanema S.A., uma das financiadoras do projeto Corredores da Mata Atlântica, que deu origem à área atualmente pesquisada. O projeto conta ainda com a participação da ESALQ, USP e com o LEEC – Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação da UNESP de Rio Claro- SP além do apoio da ANEEL, Fazenda Rosanela, Parque Estadual do Morro do Diabo e Estação Ecológica Mico Leão Preto.