As ondas de calor registradas nos últimos meses no Brasil também foram marcadas pelo aumento de incêndios florestais em vários biomas do território nacional. A prevenção e combate a esse cenário de queimadas foram pautas de um debate que reuniu brigadistas voluntários, representantes do governo federal e de entidades do terceiro setor, na última quinta-feira (23), em Brasília. No encontro, os participantes discutiram sobre o fortalecimento de iniciativas de combate e prevenção a incêndios florestais no país.
O debate ocorreu dentro da programação do “Legado Amazônico: Tecendo Redes na Gestão de Áreas Protegidas”, no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB). O evento, promovido pelo projeto LIRA, idealizado pelo IPÊ, Fundo Amazônia/BNDES e Fundação Gordon and Betty Moore, parceiros financiadores, reuniu uma rede de 400 convidados, representando setores comprometidos com a conservação da Amazônia como lideranças de comunidades tradicionais, movimentos sociais, entidades governamentais, setor privado e instituições de pesquisa.
Foto – Divulgação LIRA-IPÊ/ Adriano Brito/Trilux
“Não podemos perder nossa biodiversidade para incêndios florestais, que em sua grande maioria são causados pelo homem, de forma criminosa, como o uso do fogo para atividades agropecuárias e desmatamento. Não podemos deixar nosso maior patrimônio virar cinzas. Sem esses esforços coletivos, envolvendo governo e sociedade civil, a tendência é que esse panorama de crise climática, infelizmente, piore cada vez mais”, destaca Angela Pellin, coordenadora de projetos do IPÊ.
Além das instituições públicas legalmente responsáveis pela gestão dos incêndios florestais no país, parte deste trabalho também é realizado por voluntários. Um levantamento realizado pelo IPÊ identificou mais de 190 organizações voluntárias voltadas para a prevenção e o combate aos incêndios florestais no Brasil. A pesquisa também mostra que o perfil desses voluntários é bastante variado, incluindo moradores de áreas urbanas e rurais, indígenas, extrativistas, quilombolas, ribeirinhos e agricultores familiares.
Para Luiz Suruí, da Brigada Indígena Paiter Suruí, em Rondônia, a atuação das brigadas comunitárias ajuda a reforçar o protagonismo dos povos indígenas na defesa do território. “Ser brigadista no território indígena é uma forma de proteger e ao mesmo tempo incentivar a participação coletiva no cuidado com a nossa terra. Por isso, além do monitoramento, o nosso trabalho também envolve educação ambiental, para repassar esses ensinamentos sobre a proteção da floresta para as futuras gerações”.
Foto – Divulgação LIRA-IPÊ/ Adriano Brito/Trilux
Manejo Integrado do Fogo
O encontro também discutiu como o Manejo Integrado do Fogo (MIF) pode minimizar os riscos de incêndios florestais causados pelo desequilíbrio climático no país. O MIF envolve aspectos ecológicos, culturais, socioeconômicos e técnicos relacionados ao fogo, com a finalidade de minimizar os danos e maximizar benefícios aos ambientes naturais e às populações locais.
“É importante destacar que o Manejo Integrado do Fogo não pode ser reduzido a queima prescrita. As atividades do MIF incluem trabalho de sensibilização sobre o uso cultural e socioeconômico e o papel ecológico do fogo, mobilização social e educação ambiental, prevenção de incêndios, queimas controladas e prescritas, detecção e combate a incêndios florestais, além da reabilitação de ecossistemas e mitigação de danos”, explica João Paulo Morita, titular da Coordenação de Manejo Integrado do Fogo (CMIF), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Foto – Divulgação LIRA-IPÊ/ Adriano Brito/Trilux
Como parte dos estudos técnicos relacionados ao projeto do IPÊ que acompanha e incentiva iniciativas de voluntariado no Manejo Integrado do Fogo, o instituto está desenvolvendo uma série de dados com o mapeamento das regiões e ações das brigadas voluntárias e do poder público no país. O levantamento também destaca o histórico da ocorrência de incêndios florestais e a necessidade de proteção de áreas vulneráveis nas localidades.
“Os mapas gerados a partir desses índices poderão servir como indicativo de locais de maior vulnerabilidade, indicando a necessidade de atenção especial aquelas áreas, visando atividades distintas, como o fomento de criação de brigadas voluntárias, ou o fortalecimento institucional das já existentes, reconhecendo e valorizando a importância do seu trabalho”, afirma Fernando Rodovalho, especialista em MIF do IPÊ.
O resultado desse mapeamento ajudará a construir uma estratégia federal de voluntariado no Manejo Integrado no Fogo (MIF) e dará maior visibilidade para as iniciativas de voluntariado no MIF no país, propiciando o aumento de efeitos positivos para o controle das queimadas irregulares e o combate aos incêndios florestais.