Educação como meio de transformação socioambiental em um país megadiverso
O envolvimento de comunidades e a educação ambiental são partes estruturantes de nossos projetos e têm garantido muitas vezes a longevidade de iniciativas para a conservação da biodiversidade em diversos locais do país, como você poderá verificar aqui neste relatório de atividades. O caminho que o IPÊ trilhou até hoje sempre foi o de ver a educação como o melhor meio para a transformação socioambiental que almejamos. Como um passo quase natural nesse processo e complementar às nossas ações, é que realizamos um sonho antigo, vivo desde a nossa fundação, quando criamos nossa própria escola de conservação.
Desde 1992, ano em que o IPÊ foi criado, já tínhamos a preocupação de trocar conhecimentos com as mais novas gerações. O compartilhamento de aprendizados que desenvolvíamos em campo ou das conexões nacionais e internacionais que estabelecíamos era nosso modo de apoiar estudantes e interessados que pudessem desabrochar como profissionais na conservação e na sustentabilidade. Esse foi um caminho sem volta. Aliás, um caminho que só se fortalece com o passar dos anos.
No início, nossos cursos aconteciam pela vontade de compartilhar o que havíamos aprendido, seja em técnicas de campo, educação ambiental, medicina da conservação, e nosso querido curso de Biologia da Conservação, que muitos diziam ser um “mestrado ou doutorado condensado”. Com apoio da Smithsonian Institute, capitaneado pelo saudoso Dr. Rudi Rudram, por anos conseguimos realizar o curso de 40 dias que abrangia muitos temas indispensáveis para que o participante se sentisse apto a trabalhar a complexidade da conservação da natureza.
Dentro da própria organização, foi por meio da educação e dos incentivos para que os profissionais perseguissem seus sonhos individuais que somassem aos sonhos coletivos, que formamos uma equipe de grande qualidade. Hoje, além de coordenarem projetos em diversos locais do Brasil, colaboram com a educação oferecida pelo IPÊ.
Com o tempo, a educação no IPÊ foi institucionalizada e fortalecida quando criamos a Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (ESCAS). É na ESCAS que oferecemos cursos de curta duração em temas diversos que emergem como necessários, por exemplo carbono, educação ambiental, estatística para conservação, entre outros. Mas, um grande avanço foi o início do mestrado profissional, aprovado pela CAPES, que já conta com mais de 220 mestres formados e 64 a caminho da formação. A ESCAS criou ainda, junto com a FIA – USP, uma especialização, que enfatiza a importância da sustentabilidade no mundo corporativo.
Por que tanto empenho na educação?
Um país de megadiversidade como o Brasil precisa de profissionais competentes e bem-preparados para proteger sua imensa riqueza natural. Essa foi a ideia norteadora da ESCAS, partindo das necessidades e das oportunidades de convidar pesquisadores de alto nível para compartilharem ensinamentos e ideias novas, muitas vezes ousadas, mas que buscam integrar ciência, conhecimentos tradicionais e aplicação com práticas que ajudem a melhorar a proteção de espécies, habitats, programas educativos, até políticas ligadas a questões socioambientais.
Somos nós, seres humanos, que estamos degradando o ambiente e somos nós que devemos fazer diferente! Profissionais preparados, sobretudo engajados, ajudam a despertar o interesse nas pessoas, cada uma em sua área do conhecimento, a fazer melhor para criar soluções aptas a enfrentar os desafios atuais.
Quais os diferenciais da educação oferecida pela ESCAS – IPÊ?
Uma característica do que o IPÊ sempre defendeu é que teoria e prática andam juntas. Não é à toa que o mestrado da ESCAS é profissional, ou seja, os aprendizados são para ser aplicados e as teorias servem de base para as ações a serem implementadas.
Outra característica é a integração dos campos de saber. Interdisciplinaridade é chave para que se chegue perto das necessidades conjunturais encontradas no mundo real da conservação e da sustentabilidade. Com isso, o social, o ambiental e o econômico se tornam indissociáveis, com variações de escala de intensidade de acordo com os contextos dos trabalhos realizados pelos alunos.
A interdisciplinaridade é outro aspecto incentivado pela ESCAS – IPÊ. Com backgrounds bem distintos, os alunos selecionados podem vir de campos ligados a própria ecologia, mas muitos formaram-se de áreas distintas. Essa riqueza de experiências anteriores assegura uma riqueza também no percurso das aulas. A visão se amplia e as vivências se tornam plurais.
Com esse entendimento, o IPÊ não para de aprender e de se modernizar. Aprendemos sem parar e ensinamos com o mesmo intuito de melhorar as ações e a efetividade do que fazemos. Por isso, o aprendizado sempre será parte integral do Instituto e seus projetos. Ao contar com os coordenadores de projetos do IPÊ como professores, a ESCAS aprende e ensina continuamente e se ajusta às novas realidades e necessidades.
Ao sermos perguntados por que nos preocupamos com excelência na educação ao mesmo tempo que nos projetos que conduzimos, a resposta é que queremos melhorar o mundo, o Brasil, e ajudar a salvar a biodiversidade e contribuir para melhorar a condição de vida de pessoas que muitas vezes se encontram isoladas e sem a chance de alcançarem novas perspectivas. E nessa visão, os alunos são sementes de “ipês” que temos a chance de espalharmos pelo Brasil e mundo afora.
Suzana Padua, presidente do IPÊ