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O trabalho para a conservação da anta brasileira começou na Mata Atlântica e expandiu-se para o Pantanal e Cerrado, no Mato Grosso do Sul. São mais de 20 anos de trabalho que resultaram no mais completo e detalhado banco de dados, fundamental para planejar ações para a conservação da espécie.
Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira
De 1996 a 2007, o IPÊ desenvolveu um programa de pesquisa e conservação da Anta Brasileira na Mata Atlântica do Pontal do Paranapanema (SP) que gerou um enorme banco de dados de informações sobre a espécie. Em 2008, o projeto evoluiu para uma uma abordagem nacional, para abranger mais biomas brasileiros. Assim, foi criada a Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB).
O Pantanal passou a ser o foco de pesquisas sobre a anta a partir de 2008. Na região do Mato Grosso do Sul as ameaças e problemáticas de conservação para a espécie são bastante diversas e nunca havia sido realizado um estudo de longo-prazo sobre a anta brasileira nesta área. Ali, o objetivo é obter dados de demografia, genética e saúde das antas, informações de uso de habitat e do mosaico de fragmentos naturais característicos, buscando estabelecer um programa de pesquisa e conservação de longo-prazo e subsidiar planos para a conservação da espécie na região.
Em 2015, o projeto expandiu para o Cerrado do Mato Grosso do Sul. A cerca de 300 quilômetros da capital Campo Grande, as pesquisas da avaliam o impacto de diferentes ameaças às antas no bioma, como o avanço da agricultura e pecuária sobre o hábitat, os agrotóxicos e a relação com a saúde das antas que vivem na área, além dos atropelamentos em rodovias que cortam o Estado, e que são uma grande ameaça à vida das espécies na região.
A Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB) tem hoje o maior banco de dados sobre a espécie no mundo, e as metodologias de pesquisa e seus resultados apoiam cientistas que trabalham com variadas espécies de anta em vários países. Os dados são disponibilizados para ajudar na implementação de medidas que possam apoiar a proteção da espécie em todos os biomas brasileiros onde ela ocorre.
O Pantanal é uma das maiores áreas de wetlands contínuas do planeta, cobrindo cerca de 160.000 km² de planícies alagáveis de baixa altitude na parte alta do Rio Paraguai e tributários, no centro do continente Sulamericano. A vegetação sofre influência de quatro biomas: Floresta Amazônica, Cerrado (predominante), Chaco e Mata Atlântica. O verão (Novembro-Março) é quente e chuvoso, enquanto que o inverno (Abril-Outubro) apresenta temperaturas relativamente mais baixas e períodos de seca. O fator ecológico principal que determina os processos e padrões do Pantanal são os pulsos de cheias, que seguem um ciclo anual, monomodal, com amplitude de 2 a 5 metros e duração de 3 a 6 meses. O Pantanal está também sujeito a variações na intensidade das cheias, alternando entre anos de alagamento intenso e anos mais secos.
Os diferentes padrões de sedimentação do Rio Paraguai e seus tributários causados pela alternância entre períodos úmidos e secos levaram ao mosaico de formações geomorfológicas encontradas no Pantanal. Este complexo mosaico de habitats, tipos de solo e regimes de inundação são responsáveis pela grande variedade de formações vegetais e paisagens diversificadas, criando as condições necessárias para uma rica biota terrestre e aquática. Foram identificadas no Pantanal 16 classes de vegetação (fito-fisionomias), as mais importantes sendo gramíneas (31%), cerradão (22%), cerrado (14%), brejos e áreas alagadas (7%), floresta semi-descídua (4%), e floresta de galeria (2.4%).
A região se distingue por sua extraordinária concentração e abundância de vida silvestre. A nível nacional, o Pantanal é reconhecido como “Patrimônio Nacional” pela Constituição Brasileira de 1988, enquanto que a nível internacional este bioma já foi reconhecido por uma série de convenções tais como Ramsar, Convenção de Diversidade Biológica, Convenção de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, Convenção de Espécies Migratórias e Convenção do Patrimônio da Humanidade. Atualmente, existe um total de 360.000 hectares sob alguma categoria de proteção, correspondendo a apenas 2.6% do Pantanal Brasileiro.
Historicamente, o Pantanal nunca recebeu muita atenção dos governos nacionais do Brasil, Bolívia e Paraguai, os três países nos quais este bioma está localizado. Entretanto, durante as últimas décadas, a expansão de fronteiras agrícolas e mudanças econômicas e políticas colocaram a região na frente das discussões e planejamentos desenvolvimentistas. Os governos dos três países têm realizado grandes esforços para incluir a região do Pantanal em seus respectivos programas nacionais de desenvolvimento econômico, o que é particularmente evidente no Brasil, que detêm cerca de 85% da área do Pantanal. No meio da década de 70, o governo Brasileiro deu início a uma série de grandes programas de desenvolvimento para o Pantanal, visando a intensificação da utilização dos recursos naturais da região e a integração desta no plano nacional de desenvolvimento do país, sobretudo através da construção de estradas e redes de transmissão de eletricidade. Desde então, nove hidroelétricas com capacidade total de 323MW foram construídas no Pantanal, o projeto para estabelecer a gaseoduto Bolívia-Brasil cruzando o Pantanal de Corumbá a Campo Grande segue progredindo; e existe uma enorme pressão para mudar o curso e canalizar o Rio Paraguai de maneira a facilitar o transporte fluvial de grãos e minérios para o Oceano Atlântico (hidrovia Paraguai-Paraná). O desenvolvimento indiscriminado e a utilização desordenada dos recursos naturais da região podem levar a uma degradação de grande escala e irreversível afetando seriamente as condições de vida das populações humanas e vida silvestre do Pantanal.
Outra grande ameaça para a integridade desse bioma é o fato que os métodos tradicionais de pecuária de baixa-intensidade estão sendo rapidamente substituídos por formas mais intensas de manejo de gado. Durante os dois séculos passados, a pecuária de baixa-intensidade tem sido uma das principais atividades econômicas do Pantanal. Devido ao fato de que este tipo de manejo de gado mantém a estrutura, a função, a biodiversidade e a beleza da paisagem, ele vem sendo considerado como um método bastante sustentável de utilização dos recursos naturais do Pantanal. Atualmente, a pecuária continua sendo a principal atividade econômica da região, com aproximadamente 95% do Pantanal sendo composto por propriedades privadas de tamanho médio de 10.000 hectares. Entretanto, a crescente pressão econômica tem levado os pecuaristas tradicionais a aumentarem o número de cabeças de gado por unidade de área na intenção de aumentar a eficiência da produção de carne e o retorno econômico das fazendas. Como resultado, o que se pode observar é a exaustão de pastagens e a conversão de pastagens naturais em artificiais através da introdução de gramíneas exóticas (500.000 hectares de áreas desmatadas durante os últimos 25 anos). Em 2000, a área total de vegetação original que já havia sido substituída por gramíneas exóticas era estimada em 12.200 km². Como consequência, essas atividades já devem ter afetado cerca de 40% dos habitats de floresta e cerrado do Pantanal Brasileiro.
De 1996 a 2007, o IPÊ desenvolveu um programa de pesquisa e conservação da Anta Brasileira na Mata Atlântica da Região do Pontal do Paranapanema, São Paulo. Este programa gerou um enorme banco de dados de informações sobre a espécie.
Em 2008, a equipe considerou ter chegado o momento de usar essa experiência para expandir suas iniciativas de pesquisa e conservação da espécie para outros biomas brasileiros e foi estabelecida a Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira. A primeira “parada” foi o Pantanal, onde as ameaças e problemáticas de conservação para a espécie são bastante diversas e onde nunca havia sido realizado um estudo de longo-prazo sobre a Anta Brasileira. A meta primordial do Programa Anta Pantanal é obter dados de demografia, genética e saúde das antas, bem como informações de uso de habitat e do mosaico de fragmentos naturais característicos de muitas regiões do Pantanal, visando estabelecer um programa de pesquisa e conservação de longo-prazo e subsidiar a formulação de recomendações para a conservação da espécie na região. Depois do Pantanal, tomaremos os passos necessários para o estabelecimento de programas similares nos biomas Amazônia e Cerrado.
A pesquisa sobre a Anta Brasileira vem evoluindo significativamente nos últimos anos e muita informação vem sendo produzida através da realização de projetos de pesquisa em diversos países de sua área de ocorrência. Entretanto, as informações obtidas em diferentes países e diferentes tipos de habitat demonstram que a anta apresenta requisitos ecológicos bastante diferentes em diferentes áreas. Através do estabelecimento de novas iniciativas de pesquisa sobre a anta em diferentes biomas brasileiros, o IPÊ espera criar uma perspectiva comparativa para a conservação da espécie, investigando sua ecologia em biomas diferentes da Mata Atlântica. Com isto, teremos um entendimento mais claro sobre estes animais em diferentes biomas, com diferentes matrizes de paisagem e sob diferentes níveis de distúrbio ambiental. Assim, seremos capazes de compreender melhor a ecologia destes animais e suas necessidades em termos de conservação, bem como avaliar a importância e magnitude dos fatores ecológicos afetando as diferentes populações existentes no país. Finalmente, teremos todas as ferramentas necessárias para promover o desenvolvimento e efetiva implementação de estratégias de conservação e manejo para populações específicas de Anta Brasileira por toda a sua área de distribuição.
A meta principal do Programa Anta Pantanal é manter um projeto de longo-prazo para o estudo e monitoramento da Anta Brasileira no Pantanal Brasileiro. Especificamente, o projeto vem avaliando demografia populacional, uso de habitat e movimentos pela paisagem, status genético e status sanitário da população de antas na Fazenda Baía das Pedras, localizada na sub-região ecológica da Nhecolândia, Estado do Mato Grosso do Sul. Posteriormente, essas informações serão utilizadas para avaliar o status de conservação da Anta Brasileira e a viabilidade de suas populações no Pantanal, gerando subsídios para a formulação e implementação de recomendações para a conservação da espécie na região.
Adicionalmente, estamos comparando os dados e informações coletados no Pantanal com os resultados previamente obtidos durante a realização do Programa Anta Mata Atlântica. Através do uso dessa perspectiva comparativa esperamos estar melhor preparados para entender a importância e magnitude dos fatores ecológicos afetando as populações de Anta Brasileira por toda a sua distribuição geográfica.
Os estudos do IPÊ sobre a Anta Brasileira (Tapirus terrestris) passaram a incluir, desde março de 2015, novas áreas no Cerrado, em Mato Grosso do Sul. A cerca de 300 quilômetros da capital Campo Grande, as pesquisas da Iniciativa Nacional para Conservação da Anta Brasileira (INCAB) avaliam o impacto de diferentes ameaças às antas no bioma. Os novos dados irão aumentar o conhecimento sobre a espécie em mais uma importante área natural.
As pesquisas sobre a anta brasileira já passaram pela Mata Atlântica, na região do Pontal do Paranapanema (de 1996 a 2008), e continuam acontecendo no Pantanal do Mato Grosso do Sul (desde 2008).
No Cerrado, são analisados impactos relacionados a ameaças como atropelamentos em rodovias, avanço da agricultura em larga escala (soja e cana), pecuária de alta densidade, caça e muitas outras ameaças presentes impactam a vida e consequentemente a sobrevivência da espécie. Os atropelamentos em rodovias, inclusive, começaram a ser mapeados ainda em 2013, antes do projeto se estabelecer na região, com dados relevantes sobre a perda de espécies por atropelamentos. (Veja mais em Desenvolvimento Cerrado)
A expansão do projeto para o Cerrado foi possível a partir do Continuation Funding Awards, premiação recebida pela pesquisadora em 2014 por meio da organização britânica Whitley Fund for Nature (WFN).
Resultados prévios das pesquisas, apontam que a sobrevivência da anta brasileira no Cerrado do Mato Grosso do Sul (MS) está sob constante ameaça, devido a ações humanas. Na região, uma série de atividades coloca a vida da espécie em risco, como a remoção de florestas para o desenvolvimento do agronegócio (cana de açúcar, soja entre outras culturas). Entretanto, a ameaça que mais tem chamado a atenção ao longo das pesquisas são os atropelamentos nas rodovias que cortam o estado.
Em apenas sete trechos de estradas do Mato Grosso do Sul (BR-267, BR-163, MS-040, MS-145, MS-134 e dois trechos da BR-262), no período de 3 anos de monitoramento (iniciados no ano de 2013), os pesquisadores da INCAB encontraram 117 antas mortas por atropelamento, inclusive filhotes. Isso significa uma média de quase 4 indivíduos por mês, em uma extensão de cerca de 1.450 quilômetros de rodovias. (Dados até dia 01/06/2016)
A região estudada tem um ambiente muito alterado e paisagem extremamente antropizada e cortada por rodovias muito movimentadas e totalmente sem sinalização para a presença de animais. Os levantamentos também registraram (até 01/06/2016)14 óbitos de pessoas envolvidas em colisões com antas em rodovias do MS.
A anta é um animal de ciclo reprodutivo muito longo, são de 13 a 14 meses para a gestação de um único filhote, que pode sobreviver ou não. A espécie é considerada a “jardineira das florestas” pelo seu alto potencial de dispersar sementes que dão origem a novas árvores e plantas dentro de suas áreas de uso. Perder até 4 indivíduos a cada mês coloca este animal em uma situação de alto risco tanto para sua sobrevivência como espécie quanto para a manutenção de nossas florestas.
As carcaças frescas de antas atropeladas são submetidas a necropsia e amostradas como parte dos estudos de saúde desenvolvidos pela equipe de veterinários da INCAB. Diversas amostras biológicas coletadas durante as necropsias são analisadas para a presença de produtos químicos e agrotóxicos.
Com a grave ameaça nessas rodovias, os pesquisadores correm contra o tempo para que as antas sobrevivam no Cerrado de MS. Além de monitorar os atropelamentos, a INCAB realiza também capturas de indivíduos para pesquisa. Ao longo de 2 mil km² nessa área recortada por plantações e pecuária, as antas capturadas recebem colares para monitoramento via satélite (com o objetivo de investigar como os animais utilizam a paisagem) e são avaliadas com relação à saúde (presença de doenças infecciosas, intoxicação por agrotóxicos entre outros parâmetros indicativos de saúde) e genética. .
Os resultados de todas essas linhas de pesquisa integrados (monitoramento de atropelamentos, utilização da telemetria para estudos de uso de espaço e da paisagem antropizada e análises de saúde e genética) serão utilizados para buscar estratégias de mitigação das ameaças afetando a espécie na região. Eles já fazem parte do maior e mais completo banco de dados sobre a anta brasileira no mundo, resultado de 20 anos de trabalho da INCAB, completados em 2016.
Relatório Final - ATROPELAMENTOS DE ANTAS NO CERRADO
Relatório Parcial Atropelamentos Cerrado
Relatório Técnico Impacto de Agrotóxicos e Metais pesados na Anta Brasileira
Patrícia Medici
M.Sc. em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre
Ph.D. Manejo de Biodiversidade, DICE, Universidade de Kent, Inglaterra
Coordenadora, Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira
Presidente, IUCN/SSC Tapir Specialist Group (TSG)
E-mail: [email protected] ou [email protected]
Renata C. Fernandes SantosVeterinária
Caroline TestaVeterinária
Hotsite Anta:
www.tapirconservation.org.br
Facebook Patrícia Medici Personal Profile:
www.facebook.com/patricia.medici?ref=profile
Facebook Lowland Tapir Conservation Initiative CAUSE:
www.causes.com/causes/292707?m=0d43bb06
Canal You Tube Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira:
www.youtube.com/patriciamedici
IUCN/SSC Tapir Specialist Group (TSG):
www.tapirs.org
IUCN Red List Lowland Tapirs:
www.iucnredlist.org/apps/redlist/details/21474/0
WAZA Tapir Profile:
http://www.waza.org/en/site/conservation/waza-conservation-projects/lowland-tapir-conservation-initiative
Aqui a lista dos principais prêmios e publicações recebidas no Projeto Pantanal.
Rod. Dom Pedro I, km 47
Nazaré Paulista, SP, Brasil
Caixa Postal 47 – 12960-000
Tel: (11) 3590-0041
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